quarta-feira, 29 de abril de 2009

A dança dos afectos



São inexactos nos tamanhos
como as pedras que nos deixam as marés.
São tamanhos como escarpas
pois nunca se destrinçam os liames
nem a altura das pirâmides.

São os afectos como águas
na barragem em período de valias
suspensos e no momento imediato
em disparos de cataratas nas largadas
como filhos de cotovia nos vastos ares
que imensos são medonhos ficam.

São sensíveis como estames
nos lábios do silêncio das flores
e dançam nos quentes mimos do sol
quando extintas as sombras
em passos parados de girassol.

Animam-se de pequenos nadas e invenção
de sonhos e histórias crescidas nos lagos
nas estacas de suporte de verdes juncos
que unidos juntam forças nas danças
de pequenos insectos de pernas longas
no equilíbrio das superfícies.

Os afectos mesmo que mínimos
nas alegrias
são crianças distraídas num campo de violetas
em corridas sem cuidados
aos afios dos cardos
ao esconderijo das urtigas.

Os afectos não se explicam
existem como néctar
como vida
como "prima ballerina".

O castelo de Sofar

Procuro o castelo de Sofar
nas montanhas de Jahir.
Decido exausto a pausa na jornada
a vinte mil léguas do lugar
nas dunas de Aquiserá.

No coberto improviso de uma tenda
dentro vejo estrelas cor de chumbo
existo horizontal quedo no espaço
único de um prisma concentrado
o meu mundo.

Quando dói o corpo e se sente
o esqueleto solto o músculo lasso
desiste o olhar qualquer que seja a Lua
crescente decrescente cheia nova
indistinta; hiberna na ausência
adormece em qualquer tempo
de sossego ou ventania.

Abre-se a gruta do descanso
o silêncio.

Não sei quanto dura. Muito ou pouco
o cansaço e o recobro no primeiro sono.
Mas sei que depois o sonho
como capa e envoltura
cobre melhor o ombro a testa absurda
hesitante e insegura
na força que reafirma certezas
a golpes de cimitarra
aos inimigos do desejo
da procura.

Procuro as montanhas de Sofar
nas colinas de Jahir.

Amanhã será o dia das mil sortes
da estrela polar
voltarei a partir.